Diretas Já foi um movimento civil de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil ocorrido em 1983-1984. A possibilidade de eleições diretas para a Presidência da República no Brasil se concretizou com a votação da proposta de Emenda Constitucional Dante de Oliveira pelo Congresso.
Entretanto, a Proposta de Emenda Constitucional foi rejeitada,
frustrando a sociedade brasileira. Ainda assim, os adeptos do movimento
conquistaram uma vitória parcial em janeiro do ano seguinte quando Tancredo Neves foi eleito presidente pelo Colégio Eleitoral.
A ideia de criar um movimento a favor de eleições diretas foi lançada em 1983, pelo então senador Teotônio Vilela no programa Canal Livre da TV Bandeirantes.
A primeira manifestação pública a favor de eleições diretas ocorreu no recém emancipado município de Abreu e Lima, em Pernambuco, no dia 31 de março de 1983. Organizada por membros do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) no município, a manifestação foi noticiada pelos jornais do estado. Foi seguida por manifestações em Goiânia, em 15 de junho de 1983 e em Curitiba em novembro do mesmo ano.
Posteriormente, ocorreu também uma manifestação na Praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu, no dia 27 de novembro de 1983 na cidade de São Paulo. Com o crescimento do movimento, que coincidiu com o agravamento da crise econômica (em que coexistiam inflação, fechando o ano de 1983 com uma taxa de 239%, e uma profunda recessão), houve a mobilização de entidades de classe e de sindicatos.
A manifestação contou com representantes de diversas correntes
políticas e de pensamento, unidas pelo desejo de eleições diretas para
presidente da República.
A repressão aumenta, mas o movimento pela liberdade não retrocede e
os democratas intensificam as manifestações por eleições diretas. Na
televisão, o general Figueiredo classificava como 'subversivos' os
protestos que começavam a acontecer em todo o país.
No ano seguinte, o movimento ganhou massa crítica
e reuniu condições para se mobilizar abertamente. E foi em São Paulo
que a investida democrata ganhou força com um evento realizado no Vale do Anhangabaú, no Centro da Capital, em pleno aniversário da cidade de São Paulo
– dia 25 de janeiro. Mais de 1,5 milhão de pessoas se reuniram para
declarar apoio ao Movimento das Diretas Já. O ato é liderado por Tancredo Neves, Franco Montoro, Orestes Quércia, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, Luiz Inácio Lula da Silva e Pedro Simon, além de outros artistas e intelectuais engajados pela causa.
A essa altura, a perda de prestígio do regime militar
junto à população era grande. Militares de baixo escalão, com seus
salários corroídos pela inflação, começavam a pressionar seus
comandantes - que também estavam descontentes.
LIDERANÇAS E PERSONALIDADES
O movimento agregou diversos setores da sociedade brasileira.
Participaram inúmeros partidos políticos de oposição ao regime
ditatorial, além de lideranças sindicais, civis, artísticas, estudantes e
jornalísticas. Dentre os políticos, destacaram-se Tancredo Neves, Leonel Brizola, Miguel Arraes, José Richa, Ulysses Guimarães, André Franco Montoro, Dante de Oliveira, Mário Covas, Gérson Camata, Orestes Quércia, Carlos Bandeirense Mirandópolis, Luiz Inácio Lula da Silva, Eduardo Suplicy, Roberto Freire, Luís Carlos Prestes, Fernando Henrique Cardoso, Vander Ramos, Marcos Freire, Fernando Lyra, Jarbas Vasconcelos e dentre personalidades em geral destacaram-se Sócrates (futebolista), Christiane Torloni, Mário Lago, Gianfrancesco Guarnieri, Fafá de Belém, Chico Buarque, Martinho da Vila, Osmar Santos, Juca Kfouri entre outros.
OS COMÍCIOS
A cantora paraense Fafá de Belém participou ativamente no movimento das Diretas Já a
partir do comício de 16 de Abril de 1984.
Fafá se apresentou gratuitamente em diversos comícios e passeatas,
cantando de forma magistral e muito original, de entre outros temas, o "Hino Nacional Brasileiro", gravado no seu álbum Aprendizes da Esperança,
lançado no ano seguinte. A célebre interpretação diante das câmeras
para uma multidão que clamava pela redemocratização do país foi muito
contestada pela Justiça, mas ao mesmo tempo foi ovacionada e aclamada
pelo público. A partir daí, Fafá passou a ser conhecida como a "Musa das
Diretas". Numa entrevista dada ao jornal Folha de S. Paulo
em 2006, Fafá declarou que Montoro e outros políticos do PMDB não
queriam sua participação no movimento e que ela só passou a se
apresentar por insistência de Lula. Na mesma entrevista, Fafá declarou
ter sido muito próxima a políticos do PT, mas que sua relação com estes
se definhou após ela ter declarado seu apoio a Tancredo Neves, a cuja candidatura o partido se opôs. Fafá foi de suma importância para o comício realizado em 10 de abril de 1984,
pois foi ela quem conseguiu fazer com que Dante de Oliveira subisse ao
palco do evento, alegando para os policiais presentes que ele era o
percussionista de sua banda.
A EMENDA
Eleito pelo PMDB em 1982 e empossado em 1º de fevereiro de 1983, o deputado federal Dante de Oliveira
empenhou-se em coletar as assinaturas para apresentar o projeto de
emenda constitucional que estabelecia eleições diretas (170 assinaturas
de deputados e 23 de senadores). No dia 2 de março de 1983 finalmente apresentou a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n° 5.
Em 25 de abril de 1984,
sob grande expectativa dos brasileiros, a emenda das eleições diretas
foi votada, obtendo 298 votos a favor, 65 contra e 3 abstenções. Devido a
uma manobra de políticos aliados ao regime, não compareceram 112
deputados ao plenário da
Câmara dos Deputados no dia da votação. A emenda foi rejeitada por não alcançar o número mínimo de votos para a sua aprovação.
Às vésperas da votação, o Distrito Federal e alguns municípios goianos foram submetidos às Medidas de Emergência do Planalto. No dia 25, houve no final da tarde, um blecaute
de energia em parte das regiões sul e sudeste do País, causando
apreensão na população que esperava acompanhar a votação pelo rádio. O
apagão durou cerca de duas horas e foi, segundo a Eletrobrás
(empresa estatal que controlava todo o sistema elétrico nacional na
época), causado por problemas técnicos na rede de transmissão. Em Brasília, tropas do Exército ocuparam parte da Esplanada dos Ministérios e posicionaram-se também em frente ao Congresso Nacional.
Oficialmente estariam ali posicionados para proteger os prédios
públicos de atos de desobediência civil. Para a oposição, estes fatos
foram mecanismos intimidatórios aplicados pelo governo militar para evitar possíveis surpresas na votação.
Percebendo-se que o poder mudaria de mãos em pouco tempo, iniciou-se
um período de mudança de partidos entre parlamentares e políticos em
geral. Muitos, que eram convictamente de situação, repentinamente
iniciaram uma campanha ferrenha contra a ditadura militar. Essa
dissidência era liderada principalmente pelos insatisfeitos do PDS
(Arena), que não conseguiram indicar seu candidato para a sucessão por
via indireta e não concordavam com a candidatura de Paulo Maluf. Entre
os insatisfeitos estavam José Sarney e Aureliano Chaves (Vice
Presidente).
Conseguiram fazer de José Sarney, então "cacique" do PDS, o novo
Presidente do Brasil, após a morte de Tancredo Neves. Dava-se
continuidade, assim, ao exercício do poder pelos políticos do PDS/ARENA.
CONSEQUÊNCIAS
Para reprimir as manifestações populares, durante o mês de abril de
1984, o então presidente João Figueiredo aumentou a censura sobre a
imprensa e ordenou prisões, ocorrendo violência policial. Apesar da rejeição da Emenda Dante de Oliveira na Câmara dos Deputados, o movimento pelas "Diretas Já" teve grande importância na redemocratização do Brasil.
Suas lideranças passaram a formar a nova elite política brasileira e o
processo de redemocratização culminou com a volta do poder civil em 1985
na aprovação de uma nova Constituição Federal de 1988 e com a realização das eleições diretas para Presidente da República em 1989.
0 comentários: